terça-feira, 25 de maio de 2010

Antes que o galo cante!




“Qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem...”Lucas 9:26a

“Não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus...” Romanos 1:16a

Há duas maneiras de negar a Jesus.

A primeira é envergonhando-se d’Ele, como fez Pedro no pátio do Templo, enquanto se aquecia ao redor de uma fogueira à espera do veredicto que condenaria Jesus (Lc.22).

Preocupado em salvar a própria pele, por três vezes Pedro negou conhecer seu Mestre. O canto do galo foi o despertador usado por Deus para chamar a sua atenção. Não foi por falta de aviso. Mas a pressão psicológica a que Pedro estava sendo submetido era tamanha, que ele sequer se lembrou da advertência de Jesus.

Quantas vezes temos nos envergonhado de Jesus? Infelizmente, nem sempre temos um galo por perto para despertar nossa consciência. Porém, há situações que nos servem como despertadores. Circunstâncias adversas, decepções, e até tragédias, chegam em hora oportuna. Mas nem sempre conseguem chamar nossa atenção.

O que mais incomodou Pedro não foi o canto do galo, mas o olhar penetrante de Jesus. Foi aquele olhar desapontado que fez com que Pedro chorasse amargamente por toda a noite.

Ah se tivéssemos consciência de que o olhar do Senhor está constantemente sobre nós!

Aquele que não Se envergonha de nos chamar de irmãos, não merece que nos envergonhemos d’Ele (Hb.2:11).

A segunda maneira de negá-Lo é envergonhando-O diante dos homens.

Paulo denuncia aqueles que “professam conhecer a Deus, mas negam-no pelas suas obras, sendo abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra” (Tt.1:16).

É difícil dizer o que é pior, envergonhar-se d’Ele ou envergonhar a Ele.

Não adianta confessá-Lo perante os homens, e negá-Lo com nossas obras. Talvez fosse melhor que não O confessássemos, do que nos declararmos cristãos e vivermos como ímpios.

Judas não negou que O conhecia. Entretanto, usou tal conhecimento para entregá-lo aos seus inimigos. Judas não O negou com suas palavras, mas O negou com suas obras.

Todos, em algum momento, somos tentados a negar Jesus. Quer seja por vergonha de nos identificarmos como Seus seguidores, quer seja por atitudes que denigrem a nossa fé.

Como evitar que neguemos a Cristo?

Só há uma maneira de evitar: negando a nós mesmos.

Jesus disse: “…Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (Mc.8:34).

Se não negarmos a nós mesmos, eventualmente negaremos Aquele que nos resgatou (2 Pe.2:1). Negar a si mesmo é dizer não à sua própria vontade, é abrir mão de direitos, é não pleitear a própria causa. Quem nega a si mesmo já não faz questão de coisa alguma. Parafraseando Paulo, estamos crucificados com Cristo. Desistimos de nossa própria vida, para que Cristo viva Sua vida através de nós.

Nos envergonhamos de nossa justiça própria, pra nos gloriar na Justiça que vem do alto.

Negar a si mesmo é renunciar a tudo em nome da única coisa de que não podemos abrir mão: Cristo. O que antes reputávamos como lucro, agora consideramos perda.

De tudo de que devemos abrir mão, o mais difícil é a justiça própria.

Podemos desistir de um projeto pessoal em nome de algo mais nobre. Podemos renunciar títulos, conforto material, fama, mas dificilmente nos dispomos a renunciar nossa justiça própria.

Queremos sempre ter a razão em tudo. Basta que sejamos injustiçados, e logo recorremos a esse senso de justiça própria. Somos eternas vítimas.

Vítimas do sistema, vítimas de perseguição, vítimas dos falsos amigos, etc.

Se não renunciarmos nossa justiça, não desfrutaremos da justiça de Cristo.

Se não nos negarmos a nós mesmos, negaremos a Cristo.

Se pleitearmos nossas causas, estaremos dispensando a atuação de nosso advogado, Jesus.
Paulo entendeu isso perfeitamente, e por isso, escreveu:

“Mas o que para mim era lucro, considerei-o perda por causa de Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo justiça própria...” (Fp.3:7-9a).

Em vez de nos preocuparmos com nossa reputação, nos preocupamos com nosso testemunho. Em vez de nos preocuparmos com a aquisição e manutenção de bens materiais, nos preocupamos em repartir o que temos com os que nada têm.

Simplesmente, morremos. Sim, morremos para nossas pretensões. Já não há causas a defender, senão a causa do Reino de Deus e da Sua justiça.

Hermes C. Fernandes

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Motivo para levarmos a Cruz - João Calvino



1. Nosso Senhor não foi obrigado a levar a cruz exceto para provar a obediência a Seu Pai. Porém há muitas razões pelas quais nós devemos viver sob a contínua influência da cruz.

Primeiro, posto que somos inclinados por natureza a depositar total confiança em nossas próprias capacidades, a menos que aprendamos lições de nossa própria estupidez, formaríamos uma noção exagerada de nossa força, dando por certo que, passemos o que passarmos, seguiremos permanecendo invencíveis.

Com este tipo de atitude, nos encheríamos, como estúpidos, de uma confiança carnal e vã insuflando-nos de orgulho contra Deus, como se nosso poder fosse suficiente e pudéssemos prescindir de Sua graça.

Não há nenhuma maneira melhor de reprimir esta vaidade do que provando o quanto somos estúpidos e o quanto é frágil e vulnerável nossa natureza humana. Neste caso, é necessário passar pela experiência da aflição. Portanto, Ele nos aflige com humilhação, pobreza, perda de entes queridos, enfermidades ou outras provações.

2. Os mais santos, sabendo que somente podem ser fortes na graça do Senhor, têm um conhecimento mais profundo de si mesmos uma vez que têm passado por muitas provas e dificuldades na vida. O mesmo Davi teve que dizer: "Eu dizia na minha prosperidade: não vacilarei jamais." ( Sal. 30.6.)

Davi afirma que a prosperidade havia obnubilado de tal forma seus sentidos, que deixou de pôr seus olhos na graça de Deus, da qual deveria depender continuamente. Em vez disso, creu que poderia andar por suas próprias forças e imaginou que não cairia jamais.

3. Se isto ocorreu a este grande profeta, qual de nós não deveria ser cuidadoso e temeroso?

Se em meio à prosperidade muitos santos foram congratulados com perseverança e paciência, quando a adversidade quebrou suas resistências, viram que se enganaram a si mesmos.

Advertidos de tais debilidades por tantas evidências, os crentes recebem uma grande bênção por meio da humilhação.

Despojados assim de sua estúpida confiança na carne, se refugiam em Deus, e uma vez que o têm feito, experimentam a presença e a comunhão da divina proteção, que lhes é uma fortaleza inexpugnável.

Fonte: O Calvinismo